Considerado o principal empecilho ao avanço dos transplantes de órgãos no Espirito Santo, a recusa familiar no Estado chega a aproximadamente 60% dos casos.
De janeiro a agosto de 2018, foram realizadas 54 entrevistas familiares. Desse total, 21 delas recusaram a doação. Os dados são da Secretaria Estadual de Saúde (Sesa).
Comparado ao mesmo período do ano passado, o número ultrapassou mais da metade das 86 famílias entrevistadas, quando houve 47 recusas a doação para múltiplos órgãos, entre córnea, rim (falecido e vivo), fígado, coração e medula óssea.
Coordenadora da Central de Transplantes do Espirito Santo, Maria Machado explica que entre os principais mitos para a recusa de muitas famílias é o de o corpo não estar integro no momento do sepultamento. Além disso, na maioria dos casos a família desconhece o desejo do doador.
“Muitas famílias acham que o ente vai acordar, outras não saber o direito do doador e também querem o corpo integro no momento do sepultamento. Entretanto, é interessante avisar para a família que o diagnóstico é seguro, preciso e quando acontece a doação o corpo é recomposto. Ou seja, não vai deformado para o sepultamento”, esclareceu.
No entanto, o funcionário público e filho de uma doadora, João Victor Batista conta que a principal dúvida foi quanto ao tempo que demoraria todo o tramite. Além do mais, hoje a mente de toda a família está mais aberta por ter enxergado e pesquisado mais sobre o assunto, sendo que, a doação é uma decisão de todos na família.
“Ela [Iolanda Batista, 54 anos] teve um AVC há um mês em um domingo a noite, e antes de chegar ao hospital já estava com morte cerebral. Nós nunca tínhamos conversado sobre isso, pois falar da morte, ninguém quer. No entanto, o médico deu a opção da doação e logo de prontidão concordamos com tudo e foi tranquilo para a gente”, disse.
Doação
Atualmente, são realizadas no Espirito Santo transplantes de coração, fígado, pâncreas, rim, córnea/esclarece, medula óssea autólogo e medula óssea aparentado. Médico responsável técnico da Central de Transplantes do Espírito Santo, Ivan Matavelli ressalta que a maior dúvida recebida pela central é a de como ser uma doador.
” As pessoas até ligam para a central para questionar. No entanto, a doação somente pode ser realizada por um familiar, por ocorrer somente após a morte, sendo que, não importa nem o que foi dito em vida, mas sim o que a família vai dizer. Um parente após morte cefálica, de primeiro, segundo grau ou cônjuge é que da essa autorização por escrito, inclusive, dizendo que aceita ou não a doação”, explicou.
Fila de espera
Nesta segunda-feira (02), a fila de espera para transplantes de órgãos, chegava a mais de 1200 casos. São eles: 218 (córneas); 5 (coração); 31 (fígado); 962 (rim). Além disso, atualmente, existem no Estado sete serviços habilitados para realização desses procedimentos, sendo cinco deles por meio do Sistema Único de Saúde (SUS) e quatro particulares.