Nesta semana, o mundo acompanhou com apreensão o ataque dos russos à usina de Zaporizhzhia, na Ucrânia, a maior instalação nuclear da Europa. Poucos dias antes, o presidente Vladimir Putin tinha colocado as forças com armas nucleares em posição de alerta.
As cenas de um prédio em chamas na usina trouxeram lembranças do mais grave acidente da história da indústria nuclear, o de Chernobyl. Na Ucrânia e na antiga Bielo-Rússia, hoje Belarus, existe até hoje uma zona de exclusão, onde ninguém pode viver. Segundo a ONU, 50 pessoas morreram em decorrência direta do desastre. E pesquisadores estimam em muitos milhares as que sofreram — e sofrem — as consequências da radiação. Por isso, boa parte do mundo temia que Zaporizhzhia se transformasse numa nova Chernobyl.
Os reatores nucleares de Zaporizhzhia são muito mais seguros que os de Chernobyl. Segundo o físico Marco Marzo, ex-diretor da Agência Internacional de Energia Nuclear, é como comparar um carro popular com um de alto luxo. Se um reator como os de Zaporizhzhia for atingido por armas convencionais ou mesmo por um avião que caia em cima dele, ele vai aguentar o impacto. Mas existe pelo menos um risco muito grave:
“É o projétil atingir algum edifício auxiliar que seja muito importante para a segurança do reator”, explica Marzo.
Um edifício não tão protegido.
“Se há um blackout, falta eletricidade, os sistemas de refrigeração do núcleo do reator param de funcionar. Então, entram em ação os geradores diesel. Se esse edifício é destruído, o reator pode ficar sem refrigeração. E aí provocar um acidente nuclear”.
Sem refrigeração no núcleo, temperaturas de até 3 mil graus Celsius derretem a contenção de aço. Acontecem explosões químicas, o subsolo é infiltrado e a radiação pode se espalhar.
Felizmente, em Zaporizhzhia nada disso aconteceu. O que pegou fogo, atingido pelos projéteis, foi um prédio de treinamento de funcionários a 500 metros dos reatores.