A polícia do Haiti anunciou no domingo (11) a prisão de um cidadão haitiano que vive nos Estados Unidos e contratou parte dos colombianos suspeitos de assassinar o presidente do país, Jovenel Moise.
O diretor-geral da Polícia Nacional, Léon Charles, afirmou que Charles Emmanuel Sanon, de 63 anos, “entrou no Haiti a bordo de um avião particular com objetivos políticos”.
Nas redes sociais, Sanon se diz médico e já publicou vídeos e mensagens em que fala sobre a política no Haiti há cerca de dez anos.
Charles diz que Sanon chegou ao Haiti em junho, acompanhado de colombianos contratados para fazer a sua segurança, mas “depois a missão foi alterada”. “A missão era deter o presidente da República, e daí se montou a operação”.
Os colombianos foram contratados por meio de uma empresa de segurança venezuelana chamada CTU, que tem sede na Flórida, e a polícia chegou a Sanon após interrogar os colombianos detidos. Segundo Charles, os suspeitos de matar o presidente ligaram para Sanon quando foram cercados.
“Quando nós, a polícia, bloqueamos o avanço desses bandidos depois de terem cometido seu crime, a primeira pessoa para quem um dos agressores ligou foi Charles Emmanuel Sanon”.
O chefe da polícia disse que, na sequência, Sanon “entrou em contato com outras duas pessoas que consideramos autores intelectuais do assassinato do presidente Jovenel Moise”. A identidade destes dois suspeitos não foi revelada.
Militares colombianos envolvidos
A polícia haitiana divulgou na quinta-feira (8), antes de chegar a Sanon, que ao menos 28 pessoas participaram do crime: 26 colombianos e dois americanos de origem haitiana (veja no vídeo abaixo).
No mesmo dia, o governo da Colômbia anunciou que parte dos suspeitos são militares da reserva e enviou o chefe do diretório nacional de inteligência e o diretor de inteligência da Polícia Nacional do país para o Haiti, para ajudar nas investigações.
A polícia haitiana já prendeu 18 colombianos e 3 haitianos americanos (incluindo Sanon), segundo o diretor-geral. Cinco colombianos ainda estão foragidos e três foram mortos.
Já o governo de Taiwan revelou na sexta-feira (9) que 11 homens armados invadiram sua embaixada em Porto Príncipe após a morte e autorizou a polícia haitiana a entrar no local e prender os suspeitos.
“A pedido do governo haitiano — e para ajudar na detenção dos suspeitos —, a embaixada deu permissão à polícia haitiana para entrar no perímetro da embaixada”, afirmou a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores de Taiwan, Joanne Ou.
Membros do governo americano chegaram ao Haiti no domingo (11) para ajudar nas investigações e se reuniram com o diretor-geral da Polícia Nacional. São funcionários do FBI (a Polícia Federal dos EUA) e dos departamentos de Estado, de Justiça e de Segurança Interna.
Presidente assassinado
Inúmeras perguntas sem respostas permanecem cinco dias após o assassinato de Moise, que foi morto a tiros em sua casa, durante a madrugada da quarta-feira (7). A primeira-dama, Martine Moise, foi baleada e hospitalizada.
Gravemente ferida, Martine foi transferida para Miami, nos Estados Unidos, onde segue internada. Os três filhos do casal, Jomarlie, Jovenel Jr. e Joverlein, estão em um “local seguro”, segundo as autoridades.
Moise levou 12 tiros e foi encontrado no chão, de costas, e coberto de sangue. O escritório e o quarto do presidente foram saqueados. Ainda não se sabe quem foi o mandante nem o motivação do crime.
Pobreza extrema
O Haiti é a nação mais pobre das Américas e tem um longo histórico de ditaduras e golpes de Estado. Nos últimos meses, enfrentava uma crescente crise política e humanitária, com escassez de alimentos e violência nas ruas.
O PIB per capita do país é de US$ 1,6 mil por ano (cerca de R$ 8,5 mil), e cerca de 60% da população vive com menos de US$ 2 por dia (pouco mais de R$ 10).
O Haiti tem 11,3 milhões de habitantes, faz fronteira com a República Dominicana na ilha Hispaniola, no Caribe, e tem um dos menores IDHs (Índice de Desenvolvimento Humano) do mundo: 0,51.
Colonizado em 1492, após a chegada de Cristóvão Colombo à América, o Haiti foi o primeiro país do continente a conquistar a sua independência e a primeira república a ser liderada por negros, quando derrubou o domínio francês no começo do século XIX.
O país já foi invadido e sofreu intervenção dos EUA no século XX e tem um longo histórico de ditadores, como François “Papa Doc” Duvalier e seu filho, Jean-Claude “Baby Doc”. A primeira eleição livre do país ocorreu em 1990, mas Jean-Bertrand Aristide foi deposto por um golpe no ano seguinte.