A candidata de direita Keiko Fujimori lidera a eleição presidencial no Peru na manhã desta segunda-feira (7), mas vê sua vantagem para o candidato de esquerda Pedro Castillo cair nas últimas horas, com a apuração dos votos no interior do país.
Com mais de 89% das urnas apuradas, Keiko tem 50,32% dos votos, contra 49,68% de Pedro Castillo, segundo o Escritório Nacional de Processos Eleitorais (ONPE, na sigla em espanhol). Com 42% das urnas apuradas, a vantagem de Keiko era de 52,91% a 47,09%.
Pesquisa de boca de urna divulgada no domingo (6) havia indicado vitória apertada de Keiko, com 50,3% dos votos válidos (contra 49,7% de Castillo). Depois, o mesmo instituto de pesquisa passou a falar em “empate técnico” e apontou uma inversão do resultado, com 50,2% para o professor de escola rural e 49,8% para a filha do ex-presidente Alberto Fujimori, após fazer uma contagem rápida dos votos.
Castillo, de 51 anos, havia pedido calma após os primeiros resultados parciais, advertindo que “ainda falta contar os nossos votos, da zona rural”.
Keiko, 46 anos, ainda não comentou os primeiros números oficiais. No domingo, ela afirmou que a boca de urna deveria ser considerada com “prudência” porque a margem de diferença era “pequena”.
Ambos os candidatos prometeram respeitar o resultado de uma das eleições presidenciais mais disputadas da história do Peru, um país devastado pela pandemia e por uma grave crise política (veja mais abaixo).
“Vamos ser respeitosos assim que houver um resultado oficial”, afirmou o candidato de esquerda após votar com um paletó marrom e chapéu branco, traje típico dos camponeses de Cajamarca.
“A partir de agora, posso dizer que, seja qual for o resultado, respeitarei a vontade popular, como deve ser”, prometeu a candidata de direita, que tenta pela terceira vez se tornar a primeira presidente mulher do Peru.
Em 2016, Keiko não reconheceu a derrota para o banqueiro Pedro Pablo Kuczynski.
País em crise
Com projetos antagônicos, o professor de escola rural e a filha de Fujimori chegaram ao segundo turno praticamente empatados nas pesquisas, após uma campanha marcada por incertezas e exacerbação de temores, o que elevou a cotação do dólar na sexta-feira (4) a um recorde de 3,9 soles.
O país, que chegou a ter três presidentes em uma semana em novembro de 2020, atravessa grave crise política.
O atual presidente é Francisco Rafael Sagasti, que assumiu interinamente após Martín Vizcarra sofrer um impeachment e seu sucessor, Manuel Merino, renunciar após cinco dias.
Em 31 de maio, o governo peruano revisou os números da pandemia e anunciou que mais de 180 mil pessoas haviam morrido de Covid-19 no país, mais do que o dobro dos números oficiais.
Com a mudança, o Peru se tornou o país com o maior número de mortes por Covid-19 do mundo em relação à população.
São 5,6 mil óbitos a cada 1 milhão de habitantes, quase o dobro do segundo colocado (a Hungria, que tem 3 mil). O Brasil é o 10º pior, com 2,2 mil mortes por milhão, segundo dados do “Our World in Data”.
O resultado muito apertado da boca de urna indicava alguma esperança para o esquerdista Pedro Castillo, que liderou as pesquisas na maior parte da campanha, e ela cresceu com a contagem rápida dos votos, que o colocou numericamente à frente na disputa.
Aos 51 anos, Castillo surpreendeu no primeiro turno das eleições ao conseguir o maior número de votos em uma eleição bastante fragmentada (com sucessivas crises políticas e quedas de presidentes, o Peru vive uma onda de descrédito em relação às principais forças do país).
Castillo se tornou nacionalmente conhecido em 2017, após liderar uma greve de professores de quase três meses que exigia aumento nos salários dos professores — uma das bandeiras que ele manteve ao longo da campanha.